quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

PARADA DITA LGBT E O DESCASO COM AS PESSOAS TRANS* (BINÁRIAS E NÃO-BINÁRIAS)

No dia 29 de Janeiro de 2014, Daniela Andrade, uma militante independente prol direito e visibilidade de pessoas trans binárias, iniciou uma petição na AVAAZ com a finalidade de que a parada do orgulho GGGG (era pra ser lgbt, mas só tem representatividade G) de 2014 fosse: “Eu respeito travestis e transexuais e quero a aprovação do Projeto de Lei João Nery!”, assim solicitando que o movimento organizado dito lgbt, mas que só tem protagonismo de homens cis homossexuais, desse visibilidade e voz à pessoas que estão englobadas numa sigla e invisibilizadas no movimento, ou seja desse voz às pessoas trans, atualmente a petição tem 4.794 assinaturas.
Alguns militantes e muitas pessoas independentes compartilharam, assinaram e estão querendo que à parada dita LGBT tenha esse tema.
A parada gay nasceu através de uma revolta das pessoas trans*, em 28 de junho de 1969. Nessa época as pessoas cis homossexuais e as pessoas trans frequentavam com mais segurança o Bar Stonewall Inn, era proibido vender bebida para pessoas não cis e não hetero nos EUA, após muitos abusos, humilhações e chacota, que os frequentadores desse bar sofreram, principalmente as pessoas trans* houve uma revolta e confronto com a policia, foi um marco para os direitos das pessoas ditas lgbts (não gosto mais de usar essa sigla, pela carga assimilacionista que ela passou a ter), após um ano da revolta acontecida em Stonewall, as pessoas se reuniram para comemorar tal marco, e passou a ser assim todos os anos seguintes dando origem à parada do orgulho lgbt e por esse motivo que 28 de junho é o dia do Orgulho Lgbt.
No Brasil a primeira parada lgbt aconteceu em 1997, iniciou com pessoas querendo seus direitos, até que foi crescendo e cooptada pelo estado, como é hoje, quem organiza a parada nos dias de hoje são instituições ligadas ao estado e que usam dinheiro do estado para tal evento, a parada brasileira é uma das maiores do mundo.
Na petição criada por Daniela na AVAAZ ela cita que nos últimos anos a parada nunca citou as pessoas trans* (diga-se de passagem que o movimento dito lgbt nunca citou as pessoas trans não-binárias, se bobear nem sabe quem elas são ou que existem) após a criação da petição e a dimensão que isso tomou a APOLGBT soltou uma nota dia 11/02/2014 informando que já está tudo decidido, que a parada não irá citar às pessoas trans, nem as binárias e nem as não-binarias, e que irá novamente ter como tema a homofobia.
Assim sendo a parada do orgulho dito lgbt, informa que a pauta das pessoas trans* não é importante, que de fato eles não irão falar sobre isso e que falarão só sobre a homofobia, como tem feito em quase todas as paradas do orgulho gay, eles informaram que SE a prefeitura liberar mais verba ($$$$) eles colocarão mais um TRIO elétrico para as pessoas trans, afinal é essa a visibilidade das pessoas trans na parada gay, pessoas trans binárias e passaveis dançando em um trio elétrico.
O movimento lgbt tem as pessoas trans binárias ali dentro como forma de dizer que elas existem, mas suas pautas não tem a importância que merece, as lésbicas estão ali dentro mas suas vozes só são ouvidas quando estão condizente com as vozes dos homens cis gays, os homens trans são invisibilizados ali dentro e muitas vezes não são nem citados, vide à nota da apolgbt que só fala de MULHERES TRANS E TRAVESTIS, em nenhum momento os homens trans e as pessoas trans não-binárias foram citadas ou se quer visibilizadas.

Mulheres trans e travestis são empurradas para a marginalidade, são empurradas para a prostituição, as pessoas transexuais são obrigadas a passarem por psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas para conseguirem um laudo que prove que são transexuais e só assim terem acesso à cirurgias e à mudança de seus documentos, os ambulatórios para pessoas trans realizam poucas cirurgias, tem uma estrutura que ainda não contempla todas as pessoas trans*. Mulheres trans e travestis são mortas e entram para as estatísticas de homofobia, sendo que a motivação dos seus crimes não é homofobia e isso invisibiliza ainda mais suas pautas, os homens trans estão sendo contemplados pelo SUS recentemente, mesmo assim ainda estão passando por todos os procedimentos longos e demorados, enfrentando filas imensas, não tem a possibilidade de fazer todas as cirurgias e as cirurgias realizadas para homens trans são em números ainda menor das mulheres trans e ainda tem uma pequena representatividade até nos espaços de saúde publica.
Onde está o mesmo engajamento na luta contra a transfobia, quanto Kaique apareceu morto em São Paulo com suspeitas de homofobia, houve uma imensa manifestação e articulação para que o crime fosse investigado com rigor e para que algo fosse feito com a homofobia, porém quando GUTTA, uma mulher trans*, que havia acabado de conseguir se formar em pedagogia (um ato raro, já que as pessoas trans são impedidas de terminar os estudos), não causou a mesma sensação de revolta nas pessoas da comunidade dita lgbt, com isso não quero dizer que uma morte é menos importante que a outra só estou questionando o motivo da morte de um homem cis homossexual gerar mais comoção e mobilização do que quando isso acontece com uma mulher trans ou uma mulher lésbica. A pauta dos homens cis gays tem bons representantes e boa visibilidade, mas o que as pessoas trans* estão fazendo ali dentro?
O movimento dito lgbt é mais forte ao lado das pessoas trans*, mas a pergunta é as pessoas trans* são mais fortes no movimento lgbt?
Até quando precisará se disputar a consciencia dos homens cis gays, até quando será preciso conscientizar as pessoas que dizem estar lutando conosco, no movimento dito lgbt, para só depois dessa briga as pessoas trans* poderem ter voz dentro da comunidade que se propõe lgbt?

À partir desses fatos faço um convite:

Ongs, grupos, coletivos de pessoas trans*, pessoas trans que não fazem parte de organizações militantes, esvaziem a parada dita lgbt, não pisem nos seus trios elétricos, não entrem nos seus camarotes, não subam nos seus carros, não participem dos seus debates, se essa é a importância que a parada dita lgbt quer dar às pessoas trans*, então o que fazemos ali, se as pessoas trans* estão ali só para apoiarem a luta contra a homofobia, então porque dizem que somos parceiros?
Se a organização gggg não quer nos representar, não quer falar das nossas necessidades, quer fingir que estamos bem, felizes, que somos pessoas contempladas pelo termo homofobia, que estamos tendo representatividade e voz, vamos gritar que não, isso tudo não é verdade, vamos nos organizar, vamos nos apoiar, vamos dar as mãos e lutar todas pessoas trans* juntas, se o movimento que diz que nos representa não nos dá voz, então não daremos nem nossa imagem para apoia-los.
Convido que as pessoas trans* se organizem, façam panfletagens nos eventos do mês da parada, que se organizem em grupos e compareçam à parada gay para denunciar a nossa invisibilidade, mas não como seus parceiros, não nos seus espaços, que não nos vejam nos camarotes, que não nos vejam nos trios elétricos, que não nos vejam nos pôsteres, que não nos vejam nos debates, mas que nos vejam com a população invisibilizada, que nos vejam no chão da parada com cartazes, com panfletos, que nos vejam ali nos opondo à essa organização que se propõe burguesa, que se propõe cisgenera e muitas vezes heteronormativa e higienizada pelo sistema burguês, capitalista, prol família burguesa, não estamos sendo contemplados pelas migalhas que estão nos dando, então nos revoltemos e mostremos que somos fortes, mas não ao lado deles, somos fortes nos unindo e dando visibilidade à nossas necessidades, somos fortes quando temos união com nossos iguais, convido à todos os excluídos pela parada dita lgbt, que mostre que ela não está mais nos contemplando, que mostremos que o movimento que se propõe lgbt esqueceu de nós, quer dizer não me lembro se um dia eles lembraram de nós.

Repostando de: http://reinvencaodoser.tumblr.com/post/76533317587/parada-dita-lgbt-e-o-descaso-com-as-pessoas-trans

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